Numa época em que a
comunicação é talvez o campo da vida que mais toma espaço no cotidiano das
pessoas, teremos eleições municipais com tempos de campanha muito limitados e
recursos de comunicação bastante reduzidos e reprimidos.
Na suposta tentativa de
moralizar o processo eleitoral e evitar os abusos do poder do dinheiro, o que
está se fazendo é cortar o direito que cidadãos e cidadãs têm ao debate, à
discussão e à informação sobre suas realidades locais.
Informação política é um
direito fundamental das pessoas. Sem esse alimento vindo de todas as linhas de
pensamento, o raciocínio fica desnutrido e a decisão fica fraca, carente de
reflexão. Sem tempo, sem profundidade, sem conteúdo, a campanha fica banal,
perde importância e torna-se mais “marqueteira”, no sentido mais raso,
cosmético e pirotécnico que a expressão carrega.
Mas o estrago maior que todas
essas reformas de fachada provocam é o fortalecimento da cultura de que a
política é algo nocivo, a percepção de que as pessoas precisam ser protegidas
das campanhas eleitorais, que “quanto menos política melhor”, que campanhas são
despesas supérfluas e que podem ser descartadas. Nada mais terrível para um
país com pouca história democrática, que precisa ampliar o entendimento das
forças que conduzem seu destino, que precisa aperfeiçoar suas instituições,
seus mecanismos de representação, que precisa construir sentimentos de
responsabilidade, de corresponsabilidade, de compromisso individual com os
temas coletivos, construções que não se fazem sem campanhas políticas, sem
enfrentamentos eleitorais, sem embates de ideias, de ideais, sem novas
proposições. Isolar as pessoas da política é construir muros que impedem a
gente de ver o sol do futuro.
A legislação eleitoral rasa,
reativa e demagógica reduz o prazo oficial de campanha, de 90 para 45
dias. A pessoa desavisada pode, num primeiro olhar, achar que isso é muito bom.
Afinal, seria evitado o derrame de dinheiro em propagandas de políticos e
partidos. Mas a verdade é que, quando vai se fazer as contas na ponta do lápis
da razão, a comunicação e a propaganda eleitoral são os custos menores de um
processo eleitoral, principalmente quando comparadas às despesas com conquista
de apoios, coligações e alianças. Ainda mais num país que tem dezenas de
partidos, a grande maioria com pouca ou nenhuma integridade ideológica, num
sistema sem cláusulas de barreira, onde qualquer partido recém fundado já ganha
condições de fazer barganhas e negociatas pouco republicanas, para se dizer o
mínimo.
O marketing político e
eleitoral, pintado para o eleitor como o grande vilão e demoníaco sugador de
dinheiro é, no final das contas, a parte mais benéfica para a sociedade. Quanto
mais tempo de campanha, mais debate, mais aprofundamento, mais discussão, mais
esclarecimento, mais envolvimento e conhecimento. Mais campanha política não
quer dizer mais programas milionários na TV e na internet. Mais campanha
eleitoral seria abrir mais tempo para entrevistas, para representantes da
comunidade sabatinarem candidatos, para debates entre partidos e não apenas
entre candidaturas, debates temáticos sobre ônibus, valas, vilas, sobre jovens,
sobre idosos, sobre merenda escolar. Mais debate sobre orçamento, sobre
endividamento das cidades, mais política na vida e na veia das pessoas.
Levar
as eleições para as escolas, universidades, clubes, sindicatos, associações de
empresários, para redes sociais virtuais e físicas, para dentro do universo de
interesse de eleitores e eleitoras.
A eleição municipal é o voto
que mais afeta diretamente a vida do cidadão. São temas tão vitais que não
importaria se a campanha demorasse dois, três ou quatro meses. Por mais que
existam custos, os benefícios do debate serão sempre maiores, tanto em termos
financeiros como de desenvolvimento humano.
É nessa campanha que deveria se
discutir desde conservação de cemitérios até geração de emprego e renda na
cidade, passando por remédios, praças, iluminação pública, vacinas, calçadas,
prevenção de doenças, moradia popular, arborização, vereadores, violência
contra a mulher, violência urbana e milhares de outros temas indispensáveis.
Quanto mais curta a campanha pior para os mais pobres, para os mais excluídos,
para os mais esquecidos e injustiçados, já que justamente a hora de discutir
problemas históricos vira uma “rapidinha” sem muito compromisso.